Não tenho nada, absolutamente nada à acrescentar nesse texto, somente um elogio, perfeito.
"Mãe,
aculpa é sua
Desde
segunda-feira, 2, circulam pelas redes sociais alguns links, postagens e
comentários que têm um ponto em comum. Um ponto que está sendo negligenciado em
função de uma cegueira social bem séria e importante, cujas consequências vão
muito mais longe do que a gente pensa. Este curto post tem, portanto, somente
um objetivo: trazê-lo à tona e chamá-lo à conversa. Não pretende discutir ou aprofundar.
Pretende perguntar. Apenas isso.
O estudante
de engenharia elétrica Humberto Moura Fonseca morreu por overdose de bebida
alcoólica, no último sábado, na cidade de Bauru, em uma festa universitária. O
jornal O Estado de S. Paulo publicou então nesta quarta-feira, 4, uma breve
entrevista com a mãe do estudante. A ela foram feitas perguntas como "A
senhora sabe em que circunstâncias seu filho morreu?", "A senhora
tomou alguma providência?", "A senhora sabia que seu filho consumia
bebida alcoólica?".
O portal
Pragmatismo Político repercutiu na terça-feira, 3, uma entrevista feita pela
Revista Crescer com a senhora Olinda Boturi. Ela é mãe de Jair Bolsonaro,
deputado federal pelo PP do Rio de Janeiro, aquele sujeito com claros problemas
emocionais, éticos e humanos, e que vem colecionando afirmações terrivelmente
absurdas contra grupos oprimidos, especialmente contra nós, mulheres, lutando
para que tenhamos salários menores - como se isso fosse necessário, como se
isso já não acontecesse - em função da possibilidade que temos de engravidar,
entre insanidades advindas de profundos desvios de empatia. Dona Olinda afirma
veementemente que nunca o maltratou, que nunca defendeu que crianças apanhassem
e que crianças devem ser educadas com conversa. E que não consegue entender o
atual comportamento impulsivo e bruto de seu filho, que era uma criança
"digna, amorosa, humilde, mansa, reservada, quieta"...
Uma empresa
pertencente a (como eu posso definir Luciano Huck? Socialite? Apresentador?
Comediante? Empresário? Sem noção? Caçador de polêmicas baseadas em preconceito
e discriminação? Dono de pousada em Área de Proteção Ambiental?) colocou à
venda camisetas supostamente "infantis" com dizeres como "Vem ni
mim que eu tô facin", utilizando crianças como modelos. Os grupos
feministas e de defesa das crianças vieram todos a público repudiar esse
extremo mau gosto e falta de noção, que vulnerabiliza e expõe as crianças, e a
pressão popular causou a retirada do anúncio do ar. Tão rápida e ostensiva
quanto a veiculação e divulgação desse detestável anúncio também foi a
exposição do rostinho das crianças. E tão logo isso aconteceu, lá veio o
tribunal inquisidor culpar não a empresa, mas as mães das crianças, com
perguntas como "Onde está a mãe dessa criança que permitiu isso?!".
As perguntas
feitas à mãe do estudante morto no sábado foram extremamente culpabilizantes.
Vejo não um jornalista as fazendo, mas um investigador policial. O tom das
respostas de Dona Olinda são de justificativa, de busca de uma suposta mea culpa,
até mesmo de melancolia. E não sei como estão se sentindo agora as mães das
crianças em cujas camisetas brancas e sem dizeres foram aplicados,
posteriormente, com ferramentas digitais, os dizeres absurdos da empresa de
Huck, ao se virem culpabilizadas pelo Tribunal Inquisidor Feicibuqueano.
Então, eu só
gostaria de fazer algumas perguntas: E OS PAIS? E os homens? Cadê eles em todas
essas histórias? Por que o foco nas mães? Onde estão os homens criadores? Onde
estão os homens cuidadores? Cadê eles na conversa? Onde eles estão? Onde
estavam? Quem são? Onde vivem? O que estão fazendo? De quem a sociedade quer
que seja toda a culpa?
Mas, calma.
Tenhamos calma. Não sejamos feminazis, xiitas, radicais. Estamos na semana do
Dia Internacional da Mulher e vamos ganhar muitas, muitas flores. E descontos
para produtos de beleza a fim de ficarmos mais atraentes. E duas depilações por
uma. E bombons diet. E as flores do tiozinho que as oferece nos bares para o
cara honrar a namorada que está ao lado vão vender como água. E vai ficar tudo
bem, não vai?
Não. É claro
que não vai.
Porque
enquanto assim for, assim será.
Fim do post.
Ah, e uma
feliz Semana da Mulher pra você.
Ligia
Moreiras Sena é cientista. E mãe. Autora do blog Cientista Que Virou Mãe e do
livro "Educar sem violência - criando filhos sem palmadas"."
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