Queria escrever um pouco sobre a história da farmácia e então escolhi esse trecho de um trabalho da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa:
Ao conjunto das crenças e práticas relacionadas com a saúde
utilizadas por estes povos é dada a denominação de Medicina Primitiva, a qual
se baseia, do ponto de vista da terapêutica, numa fortíssima componente
psicológica baseada em crenças e ritos mágicos, aliada ao emprego de plantas
medicinais. As populações do Paleolítico, embora tivessem uma esperança de vida
curta, não sofriam, devido ao seu estilo de vida nômade, das mesmas doenças que
virão afetar as sociedades sedentárias e urbanas. A baixa densidade
populacional, o fato de não se manterem nos mesmos locais o tempo suficiente
para contaminar os solos e os cursos de água e a inexistência de animais
domesticados que funcionassem como reservatórios, reduziam drasticamente o
perigo das doenças infecciosas.
Com o fim do último período glaciar
(Pleistoceno), a humanidade começou a compensar a escassez de caça com o início
do cultivo de alimentos e da domesticação de animais. Esta utilização de novos
recursos originou uma explosão demográfica e trouxe consigo as sociedades
urbanas, com uma maior divisão do trabalho e uma estrutura social mais
complexa, que desembocaria brevemente no aparecimento da escrita, mas trouxe também
um grande rol de novas doenças humanas. O gado bovino forneceu alimentos, mas
também a tuberculose e a varíola, entre outras doenças. Os porcos e as aves
forneceram a suas gripes. A sedentarização e o desenvolvimento da agricultura
também facilitaram a disseminação de doenças ligadas ou transmitidas por
parasitas e insetos, como o paludismo. Este processo de contaminação ligado ao
aparecimento de novos processos tecnológicos de obtenção de alimentos continua
na atualidade, como o mostra o problema da BSE (Bovine Spongiform
Encephalopaty ou Encefalopatia Espongiforme Bovina ou doença da vaca louca) e da gripe das aves. O impacto
das novas doenças epidêmicas nas primeiras sociedades urbanas foi tal que a sua
marca sobreviveu na tradição oral e escrita, como a que se refere às Sete
Pragas do Egipto referidas no Antigo Testamento.
As primeiras sociedades com escrita surgem no Crescente
Fértil e no vale do Indo, adquirindo grande desenvolvimento a partir do 4.o
milénio a.C. O Crescente Fértil, cujas civilizações são as que têm maior
importância para a história da farmácia ocidental, é constituído pelo Egipto,
pela Mesopotâmia e pelo corredor sírio-palestiniano. As
mais antigas fontes escritas médico-farmacêuticas são provenientes precisamente
das civilizações da Mesopotâmia e Egito. Na Mesopotâmia são constituídas por
tabuinhas de argila gravadas com um estilete em escrita cuneiforme. Esta
técnica permitiu que estes documentos tivessem sobrevivido até à atualidade,
como aconteceu com as bibliotecas de Hammurabi (c. 1700 a.C.) em Mari e de Assurbanípal
(c. 630 a.C.) em Nínive. O mais antigo documento farmacêutico conhecido é uma
tabuinha suméria executada por volta do último quartel do terceiro milênio,
contendo quinze receitas medicinais e descoberta em Nippur. Além deste
formulário apenas se conhece mais uma pequena tábua com uma única receita do
período sumério, mas em contrapartida são conhecidas centenas de tabuinhas
médicas datadas do primeiro milênio. Entre 1974 e 1975 foi descoberta a
biblioteca do palácio real de Ebla (Síria) com cerca de 20.000 tabuinhas de
argila, muitas das quais com informação sobre os medicamentos utilizados na
época. No Egito, além das inscrições referentes à medicina existentes em
vários monumentos, as fontes escritas são principalmente papiros, um suporte
constituído por fibras de papiro maceradas e aglutinadas até constituírem
folhas compridas que se conservavam enroladas e eram escritas com a ponta de
uma cana. O carácter seco das areias do deserto permitiu que estas fontes
resistissem aos anos. O papiro mais importante para a História da Farmácia é o
Papiro de Ebers, mas outros existem com interesse farmacêutico como o de
Hearst, o de Londres e o de Berlim, entre outros. O Papiro de Ebers, do nome de
Georg Ebers (1837-1898) que primeiro o estudou em 1875, data de c. 1550 a.C., tem mais de 20 metros de
comprimento e inclui referências a mais de 7000 substâncias medicinais
incluídas em mais de 800 fórmulas. Contrariamente ao que acontece nas fontes
mesopotâmicas, as fórmulas egípcias, como as contidas neste papiro, são
quantitativas.
Fonte:
Fonte:
A Farmácia e
a História Uma introdução à História da Farmácia, da Farmacologia e da
Terapêutica - José Pedro Sousa Dias
Acredito que todos os colegas saibam como é antiga a nossa profissão e a sua importância para o desenvolvimento das sociedades. Trago aqui mais um trecho de um texto sobre a farmácia, com um pouco de história também, mas com informações sobre a nossa posição em períodos definidos por altos e baixos.
Os autores Hepler & Strand realizaram
uma análise sobre os três períodos que consideram mais importantes da atividade
farmacêutica no século XX, definindo-os como: o tradicional, o de transição e o
de desenvolvimento da atenção ao paciente. O papel tradicional foi desenvolvido
pelo boticário que preparava e vendia os medicamentos, fornecendo orientações
aos seus clientes sobre o uso dos mesmos. Era comum prescrevê-los. Conforme a indústria farmacêutica começou a se desenvolver,
este papel do farmacêutico paulatinamente foi diminuindo. Começa assim o
período de transição. As atividades farmacêuticas voltaram-se principalmente
para a produção de medicamentos numa abordagem técnico-industrial. Os países do
Primeiro Mundo concentraram-se no desenvolvimento de novos fármacos e o Brasil,
que possui um parque industrial farmacêutico predominantemente multinacional,
trabalhou a tecnologia farmacêutica adaptando as fórmulas às condições
climáticas do país.
A publicação da Lei 5.991/73, que ainda está em
vigor, conferiu às atividades farmacêuticas um enfoque mercantilista. Qualquer
empreendedor pode ser proprietário de uma farmácia ou drogaria, desde que conte
com um profissional farmacêutico que se responsabilize tecnicamente pelo
estabelecimento. Este é o marco da perda do papel social
desenvolvido pela farmácia.
O estabelecimento comercial farmacêutico voltou-se
para o lucro e o farmacêutico começou a perder autonomia para o desempenho de
suas atividades. O profissional passou a atuar como mero empregado da farmácia
ou drogaria, perdeu o respeito da sociedade e refugiou-se em outras atividades,
distanciando-se de seu papel de agente de saúde. Com isto, ampliaram-se os
espaços para a obtenção de lucros desenfreados através da
"empurroterapia" e da propaganda desmedidas.
O medicamento passou a ser visto com uma solução
"mágica" para todos os problemas humanos, assumindo o conceito de bem
de consumo em detrimento ao de bem social.
Mas, enfim, o farmacêutico em meio a uma grave crise de
identidade profissional iniciou sua reação fazendo nascer nos anos 60 a prática
da farmácia clínica. Passou a se conscientizar do seu papel para a
saúde pública. A prática farmacêutica orienta-se para a atenção ao paciente e o
medicamento passa a ser visto como um meio ou instrumento para se alcançar um
resultado, seja este paliativo, curativo ou preventivo. Ou seja, a finalidade do
trabalho deixa de focalizar o medicamento enquanto produto farmacêutico e passa
a ser direcionada ao paciente, com a preocupação de que os riscos inerentes à
utilização deste produto sejam minimizados.
Hoje, mais do que nunca, é possível encontrar farmacêuticos
desempenhando funções dentro das secretarias municipais da saúde, mas o número
de profissionais está muito aquém das reais necessidades. Ainda não está
garantida a sua presença em todas as unidades básicas de saúde, mesmo existindo
dispositivo legal que determine isto. No entanto, temos que refletir que
mudanças estão ocorrendo e que acenam para a melhoria dos serviços oferecidos à
população.
No sentido da necessidade de fomento à qualidade da
assistência farmacêutica, em 1990, Hepler & Strand expuseram sua
preocupação com os problemas que os medicamentos podem causar em relação à
diminuição da qualidade de vida do paciente. Identificaram oito categorias de
problemas relacionados aos medicamentos. Este foi o impulso inicial para o
surgimento de uma nova prática, a atenção farmacêutica.
Os serviços de farmácia não são considerados prioritários na
disputa por recursos nos orçamentos da saúde. Talvez a sua importância ainda
não esteja explicitada para a maioria dos gestores. Isto é possível constatar
pelas condições físicas e de recursos humanos em que se encontram, embora
estudos sobre o tema sejam necessários. Dentro da estrutura das unidades de
saúde, a farmácia geralmente ocupa pequenos espaços, muitas vezes sem as
condições mínimas necessárias para o armazenamento adequado de medicamentos.
Ainda é possível encontrar farmácias em que há grades separando o usuário do
serviço e o profissional que faz o atendimento. Além disso, falta pessoal
qualificado. Assim, não há condições apropriadas para que este serviço
desempenhe a sua função e para que de fato as relações sejam mais humanizadas.
O farmacêutico, via de regra, é o último profissional de
saúde que tem contato direto com o paciente depois da decisão médica pela
terapia farmacológica. Desta forma, torna-se co-responsável pela
sua qualidade de vida. Tanto o usuário quanto o profissional devem ser vistos
na totalidade do seu ser e por isso os conceitos de pessoa, responsabilidade,
respeito, verdade, consciência, autonomia, justiça, etc. devem ser
interiorizados para modelar a conduta profissional.
A humanização do serviço de farmácia passa por todos estes
aspectos e também abrange questões relativas ao ambiente de atendimento. É
necessário que haja instalações adequadas o suficiente para causar bem-estar e
confiança. Que o farmacêutico possa atendê-lo em sala reservada para este fim,
garantindo privacidade.
Fonte: Possibilidades de contribuição do farmacêutico para a
promoção da saúde - Fabiola Sulpino Vieira.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232007000100024&script=sci_arttext
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232007000100024&script=sci_arttext
Está achando cansativa a leitura? Pode até ser, principalmente para aqueles que não têm o hábito de ler, mas estou direcionando esse texto aos colegas Farmacêuticos, logo, pessoas que leem muito. Precisamos nos manter constantemente informados, textos técnicos como por exemplo da ANVISA fazem parte do nosso dia a dia, então, ler é um hábito para os Farmacêuticos sim. O que realmente eu quero destacar aqui é a importância da nossa profissão para a saúde e desenvolvimento das populações.
A história da Farmácia deveria ser motivo suficiente para que hoje fosse uma profissão valorizada, entretanto, nosso piso é uma piada, as condições de trabalho quase sempre são péssimas. Lembro de poucos lugares onde trabalhei que pudesse contar com uma mesa e cadeira para eu desenvolver meu trabalho. Não esqueço de um dia, durante meu estágio para a disciplina de Farmácia Hospitalar, que a chefe da farmácia comunicou sua saída do hospital e então sugeriu alguns nomes para substituí-la, mas... ninguém quis assumir e, então, uma Enfermeira ficou com o cargo. Em hipótese alguma estou aqui desmerecendo alguma profissão, simplesmente acho um absurdo que a chefia de uma farmácia hospitalar seja assumida por qualquer outro profissional além do Farmacêutico.
Durante a minha graduação, muitos estavam cursando Farmácia para ocupar a vaga de outro Farmacêutico na empresa da família e deixavam claro que não tinham a menor afinidade com a profissão, era somente uma obrigação.
Meu propósito com esse texto, não é somente polemizar, é também uma homenagem a todos os colegas Farmacêuticos e aproveitar a data comemorativa do nosso dia para esclarecer que essa valorização que tanto almejamos passa, além do preparo técnico, por uma mudança de postura nossa, que deve, sim, assumir a responsabilidade de ser a autoridade em saúde dentro das farmácias e drogarias. Sendo uma data comemorativa não pode somente existir para exaltar a lembrança ou a importância de uma profissão, mas também ser um momento para refletir sobre o nosso papel, nossa existência e participação junto ao mercado em que atuamos. Não serão leis ou qualquer mecanismo que se baseiem em imposição que trarão o tão sonhado reconhecimento e valorização que tanto almejamos, pois reconhecimento e valorização não devem ser impostos, mas sim, conquistados.
Durante a minha graduação, muitos estavam cursando Farmácia para ocupar a vaga de outro Farmacêutico na empresa da família e deixavam claro que não tinham a menor afinidade com a profissão, era somente uma obrigação.
Meu propósito com esse texto, não é somente polemizar, é também uma homenagem a todos os colegas Farmacêuticos e aproveitar a data comemorativa do nosso dia para esclarecer que essa valorização que tanto almejamos passa, além do preparo técnico, por uma mudança de postura nossa, que deve, sim, assumir a responsabilidade de ser a autoridade em saúde dentro das farmácias e drogarias. Sendo uma data comemorativa não pode somente existir para exaltar a lembrança ou a importância de uma profissão, mas também ser um momento para refletir sobre o nosso papel, nossa existência e participação junto ao mercado em que atuamos. Não serão leis ou qualquer mecanismo que se baseiem em imposição que trarão o tão sonhado reconhecimento e valorização que tanto almejamos, pois reconhecimento e valorização não devem ser impostos, mas sim, conquistados.
Feliz Dia do Farmacêutico!
Como em todos os anos, as comemorações pelo Dia do Farmacêutico incluem algumas campanhas publicitárias, então compartilho algumas com vocês.
E aqui algumas imagens para descontrair!
Nenhum comentário:
Postar um comentário