Você quer apoiar alguém que está doente? Então antes certifique-se de que é muito
possível que essa pessoa esteja neste momento lutando contra um sentimento de que
fez algo de errado ou que merecesse ter a doença. Um sentimento de culpa.
O que realmente uma pessoa com uma doença crônica gostaria de ouvir é
"Tenha calma, estou aqui para te apoiar", mas o que as pessoas
costumam nos dizer é "eu tenho o segredo para você melhorar, se você
tivesse coragem e força de vontade para seguir meu conselho, você não estaria
doente." Isso só reforça o sentimento de culpa, que merecemos estar
doentes, que provocamos essa doença.
E muitas vezes eu ainda penso que a culpa é minha, eu acredito nisso.
Quando furo a dieta proposta pela minha Nutricionista é um dos momentos mais
deprimentes para mim, pois sei que algo vai dar errado e mesmo assim eu vou lá
e como o que não devo. Mas aqui, pensando friamente, posso te afirmar que a
culpa é nossa sim, pois sabemos as consequências.
Agora, se culpar por ter uma doença crônica é outro assunto e não
podemos alimentar esse sentimento. Sabe por que? Veja bem, boas e más pessoas, atletas
campeões, pessoas que bebem demasiadamente, fumantes e não fumantes, pessoas
que se alimentam de forma saudável também têm doenças crônicas. Então é mais provável que seja algo aleatório e não nossa culpa.
Esse sentimento de culpa é comum entre as pessoas com doenças crônicas.
Devemos ficar longe dessa linha de pensamento, porque ela pode levar à
depressão. Tentar colocar a culpa em alguém, seja em nós mesmos ou outra
pessoa, não vai trazer a cura e não vai fazer com que a gente se sinta melhor.
É uma prática muito mais saudável investir a nossa energia no pensamento
positivo.
Trabalhar o quanto conseguir para evitar pensamentos como "a culpa
é minha" ou "eu poderia ter feito algo diferente". Esse tipo de
pensamento tende a resultar em depressão. Portanto, sempre que começarmos a
pensar dessa forma, vamos imaginar um sinal de "PARE" enorme e
mandarmos o pensamento embora.
O importante é você trabalhar a aceitação, aceitando que a sua vida é diferente e que seu corpo também. Precisamos aprender a viver dentro desse corpo que por vezes magoa a si próprio.
Não perca a esperança, as pesquisas estão sempre avançando e quem sabe um dia teremos algum medicamento realmente efetivo ou quem sabe a cura.
Sobre os
nossos sentimentos influenciarem no curso da doença, isso é um fato já
comprovado cientificamente. Por isso, receber apoio de pessoas que realmente se
importam conosco é muito reconfortante. Buscar ajuda com um Psicólogo ou
terapias alternativas, como meditação, Yoga pode ajudar a restabelecer o
equilíbrio dos sentimentos e ajudar com a aceitação.
Então quando
você quiser apoiar, primeiramente entenda algumas coisas: não existe cura para
as doenças inflamatórias intestinais (doença de Crohn e retocolite ulcerativa),
não existe dieta específica para tais doenças. Não é algo simples de tratar, não
é por falta de vontade minha que estou doente. São doenças crônicas e
autoimunes que ainda não se sabe nem ao certo o que pode levar uma pessoa a
desenvolver. Os tratamentos disponíveis não funcionam da mesma maneira em
todos. Que fique claro que não é falta de tentativa. Usamos corticoides,
imunossupressores, antibióticos, medicamentos biológicos e todos têm diversos
efeitos colaterais, onde o risco/benefício é constantemente avaliado. Passamos
por cirurgias, internações, alguns passam a viver ostomizados, outros com
próteses, outros com dores intermináveis... a luta que travamos dia a dia não é
pequena.
Agora que você leu uma pequena lista do que passamos, tente ter empatia, entendendo e apoiando verdadeiramente, sem querer encontrar um culpado ou achar que não estamos tentando fazer o melhor. A culpa não é minha, não é nossa!
Esse texto foi inspirado no depoimento de Hank Green, um desabafo sobre a o sentimento de culpa quando temos uma doença crônica. Ele tem retocolite ulcerativa. O vídeo está em inglês, mas você pode acompanhar com a legenda em Português.
Sobre Hank
Green:
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