Bem, minha história com meus intestinos começou em
1991... eu tinha 13/14 anos, era uma criança normal. Magra, mas vivia muito bem
de saúde, exceto uma anemia persistente desde os 11 anos.
Vivia uma relação complicada em casa, por causa do
alcoolismo do meu pai, que, apesar de não haver violência física, havia
violência psicológica. Até que em 1991 tive a minha primeira discussão com meu
pai, ele, no dia seguinte teve um AVC, aos 39 anos.
No dia seguinte eu tive uma forte diarreia e muita dor
na barriga. Como estava entrando no ensino médio, vivendo a situação de doença
de meu pai e até me sentindo culpada pelo mal que ele sofria, os médicos
examinavam minha barriga e me prescreviam vermifogos para ameba, h.pilori etc.
Tive uma leve gastrite... um ano assim e nada... os gastro que fui disse a
minha mãe que era tudo psicológico, que eu não tinha gastrite, que comia mal
etc. Fui ao psicólogo que me cuidou como ansiosa.
Idas ao gastro eram constantes e tome endoscopia e
metronidazol... magra, com dor e diarreias diárias. Nunca associei à
alimentação, mas cortei chocolates, crus, pois via que doía mais. Em 1993 eu
estava no 3º ano, pensava em medicina, mas vivia muito magra e já tinha cortado
por escolha própria carne, feijão etc.
Fui a uma nutricionista pela primeira vez, ela era
naturalista, não se as falava em ser vegetariana. Mas fiz a dieta sugerida por
ela: cortei todas as carnes. Vivia de soja, pois fazia o leite de soja caseiro,
naquela época não tinha derivados de soja como têm hoje.
Não consegui prestar para medicina, vivia mais no
banheiro do que qualquer outra coisa. Mas essa naturalista me ensinou a usar
argila no abdomem. Era uma alivio. Mas argila era cara, só fazia em dia de
provas. Mas no dia do vestibular, nem conseguia ficar em pé, fui fazer a prova,
mas não consegui ir bem... mal conseguia sentar.
Como era magra, sofria intenso bulying.
Em 1994, estava fazendo um cursinho pre vestibular,
quando no inicio de junho comecei a ter uma dor absurda, e sentia o meu
intestino mexer na minha barriga... de repente, parei de evacuar, achei que
estava ficando curada, ir uma vez ao banheiro seria um sinal de paz? Bem, não
foi bem assim, no dia 12.06.1995 estava com a barriga enorme, 1,74 e 47 kg...
eu comecei a vomitar esverdeado, uma, duas, três vezes, até que comecei a
vomitar fezes... fui para a emergência, os médicos apalparam a minha barriga,
doía muito, disseram que iam me abrir e lá vriam se era apendicite ou outra
coisa... minha mãe não deixou, pois disse que se eles não achavam que era
apendicite, não deveriam me abrir, deveriam fazer exame de imagem.
Colocaram uma sonda de sucção para tirar as fezes do
meu estomago e bile, muita bile...
Tive uma sepse, pois fezes começaram a vazar para dentro
da cavidade abdominal... febre...consegui vencer a infecção e fiquei internada
fazendo todos os exames... conheci todos os procedimento de uma só vez: de
colocar o soro, oxigênio, morfina, lavagens...
Passei um, dois, três meses no hospital investigando...
minha mãe disse que eu só sairia qdo soubesse o que eu tinha. Fiz um transito
intestinal com sulfato de bário... tive fecaloma... minhas opções: ou forçava
colocar para fora ou colocariam a mão para puxar... coloquei depois de quase 8
horas de força...saiu uma pedra do tamanho da minha mão fechada.
Viram no exame um estreitamento... na década de 90
esse era o melhor exame de imagem disponível em Salvador.
Resolveram fazer uma colonoscopia. Eu chorei ao saber
como era... era virgem e me sentia concedendo um estupro. O preparo aconteceu,
mas o exame não... a sedação não pegou e até chutei, sem querer o rosto do
medico.
Voltei ao leito... chorei horrores. Minha medica disse
que iria tentar a colono com uma nova droga para me sedar em outro hospital.
Algo recente chegado ao Brasil: propofol.
Fui transferida de hospital... fiz o internamento e o
preparo com o propofol...o medico viu: “tem um pólipo que invaginou e fez um nó
nas tripas”, temos que operar e tirar o pedaço. Ela tem doença de Crohn.
Eu nem sabia o que era isso...
Explicaram que era uma doença de velhos europeus, que
meu intestino tinha idade de 60 anos... e que ia viver a base d remédio pelo
resto da vida.
Eu não quis aceitar... os remédios não eram cedidos
pelo SUS, minha família era humilde... minha vida estava sendo cerceada.
Voltei para o outro hospital em dezembro de 1995 e
tive alta para passar, pelo menos o ano novo em casa.
No dia 31.12.1994 estava arrumendo a casa para uma
grane festa de Ano Novo, sentia dores, mas não queria falar nada... queria
passar aquela noite ali, com família e amigos... não deu... às 18 horas, morria
de dor e voltei à emergência. Pedia a meus pais que me deixassem lá pq a casa
ficaria cheia... eu estaria bem, já conhecia o hospital inteiro... aos prantos
voltaram pra casa e eu vi os fogos da janela do quarto... quis morrer...
naquele dia e em vários outros.
Como os médicos haviam viajado, fiquei acompanhada com
outros resistentes e médicos que só me mantiveram sem dor.
Lá pelo dia 07.01.1995 os médicos voltaram e planejaram
minha cirurgia, estava com 5 de hemoglobina, desnutrida, ainda era
vegetariana... então, vamos lá: bolsas e sangue e alimentação parenteral, minha
barriga doía horrores...
Tinha que ficar forte para fazer a cirurgia... já não
conseguia andar... pensei muito na vida e decidi que não faria medicina, pois a
ansiedade tbm me matava.
Já vivia com metronidazol, albumina, corticóide, azatioprina...
Um mês me preparando para a cirurgia, finalmente
abriram a minha barriga em 22.02.1995! tiraram 40 cm, um pólipo e tecido
necrosado.
100 pontos internos e 100 pontos externos.
Em 8 dias estava outra. Foi um alivio ao corpo ter se
livrado daquele pedaço de intestino...
Com o receituário dos remédios, vi que meus pais não
tinham condição alguma de pagar meu remédio e não dava no SUS.
Decidi não tomar nem sufassalazina e nem mezalasina,
ambos foram prescritos.
Vivi com melhor alimentação, retomei as carnes e fazia
a argila abdominal. Niguém: médicos, nutricionistas, ninguém sabia o que era
doença de Crohn.
Decidi viver enquanto tivesse vida e faria as colonos
para me monitorar. Tudo por conta própria. Já tinha 18 anos.
Fiquei de repouso por 6 meses... meu pai desempregado
e já recuperado do avc e livre do alcoolismo, me cuidou.
Voltei a estudar e fiz um vestibular de Contábeis,
estudei com dificuldade para adaptar a vida às diarreias intermitentes... a
argila em casa me salvava..
Fiz minha graduação com honra ao mérito, estagiei,
estudei, fiz pós, namorei, casei, trabalhei onde ninguém queria, me tornei
auditora em tributos, vivi melhor que muita gente, era saudável.
Casei, conquistei tudo que eu queria e precisava.
Até que em 22.08.2013, aos 34 anos, tive uma dor anal
absurda e diagnosticaram um abcesso. Emergência, drenar abcesso, fistula.
18 meses para cicatrizar, 18 meses acamada, tive que
aderir ao biológico adalimumab. Comecei terapia holística 2 vezes por semana (reiki, aromaterapia, massagem indiana,
meditação, alimentação ayurvedica, meditação), tenho alimentação alcalina,
livre de gluten e lactose ao maximo. Sem industrializado e zero sacarose ou
adoçantes artificiais.
Em 09.2015, a Patricia Mendes da AMDII faz contato
comigo: A Bahia precisa ter uma associação. Meus amigos portadores deram as
mãos e fundamos a ABADII.
Porquê? Para não deixar ninguém receber diagnóstico
errado; ninguém achar que se autoprovoca uma doença autoimune; que há vida com
DII; e principalmente, para que nunca
mais um portador de DII se sinta sozinho...
Estou aqui, para servir, pois sei que recebi o melhor
de cada pessoa que passou em minha vida, mesmo aqueles que não acertaram o meu
diagnóstico e tratamento...
Tive a oportunidade de acolher a Doença de Crohn,
compreender e estudar o meu corpo, ele não é louco, não é errado, ele é
diferente, e eu o amo. A doença me levou às melhores experiências da minha
vida. Sou grata, de alguma forma. Não pretendo racionalizar isso para que
ninguém entenda, mas sei que, quem olha
pra mim e me ouve, sabe que estou falando a verdade.
Estou em remissão desde 11.2015 com adalimumabe até os dias atuais e
muito feliz.
Meu nome é Verenna Melo, tenho 39 anos, moro
em Salvador/BA, sou Contadora, tenho Doença de Crohn. Meu perfil no
Facebook: https://www.facebook.com/verenna.melo1511 Verenna é Presidente da ABADII – Associação Baianados Portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais.
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