Texto da revista ABCD Em Foco da
Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn:
Cuidado! Pode ser uma manifestação
articular das doenças inflamatórias intestinais
“Uma coisa é uma coisa e outra coisa é
outra coisa”, ouvimos quando alguém quer deixar clara a diferença entre duas
situações distintas. Só que no caso das doenças inflamatórias intestinais nem
sempre é assim. Além do comprometimento do aparelho digestivo e, sobretudo, do
cólon e do íleo, o Crohn e a retocolite ulcerativa também podem provocar
manifestações em locais do organismo muito longe do intestino. Na última edição
da ABCD em Foco, foram abordadas as manifestações oculares que os pacientes de
DII podem ter. Agora, vamos falar das manifestações articulares, que são as
mais freqüentes em doenças inflamatórias intestinais. A literatura médica
mostra que de 1 a 25% dos pacientes de colite ulcerativa têm dores nas juntas,
e de 2 a 7% dos doentes de Crohn passam pelo mesmo problema. “A manifestação
extra-intestinal considerada mais freqüente é a artrite, que se manifesta em 2
a 20% dos pacientes de DII”, diz a Dra. Emília Inoue Sato, professora titular
de Reumatologia da Unifesp, a antiga Escola Paulista de Medicina. “A boa
notícia para esses pacientes é que 80% deles nunca terão qualquer problema
deste tipo”, diz a médica.
A pergunta que fica é como um doente
de DII pode perceber que as dores que sente na articulação do tornozelo ou o
inchaço que tem no joelho tem a ver com a sua doença intestinal? Afinal, seria
mais lógico, além de serem mais conhecidas, as crises de diarréia e as dores
no abdome. “As articulações mais freqüentemente comprometidas são as dos
membros inferiores (joelho, tornozelo) e as articulações dos pés, (as dos dedos
dos pés)” diz a reumatologista da Unifesp. “O paciente pode ter um inchaço que
dura alguns dias e que depois some - espontaneamente ou em função de algum
antiinflamatório -, mas depois volta a ter dor.”
Outra manifestação é a inflamação em
alguns tendões, como no tendão de Aquiles, que é aquele que fica atrás do
calcanhar. Ou ainda, o paciente começa a sentir dor na sola do pé, como se
estivesse desenvolvendo o que os médicos chamam de esporão de cancâneo. Quando
isso acontece, a pessoa acorda de manhã e quando vai pisar no chão, ao sair da
cama, sente dor na sola do pé ou na parte de trás do calcanhar. “O indivíduo
mais jovem que tem uma doença inflamatória intestinal pode ter dor lombar,
principalmente na nádega, na região chamada sacro-ilíaca. Este comprometimento
é mais raro e pode acontecer em 5 a 10% dos casos”, diz a Dra. Emília.
🔺 Dor aqui ou dor ali, todas as pessoas
costumam ter alguma queixa e, em geral, um remedinho simples costuma resolver.
Só que com o paciente de DII a história é um pouco diferente: ele poderá ter
ainda mais problemas se começar a tomar um antiinflamatório para aliviar a sua
dor. Os doentes menos avisados sobre os efeitos colaterais de alguns
medicamentos tomam o primeiro remédio que vêem pela frente para fazer sua dor
sumir - quase sempre antiinflamatórios. “É importante informar ao paciente que
os antiinflamatórios não hormonais podem agravar o quadro inflamatório
intestinal, obrigando a sua suspensão”, chama a atenção o Dr. Isidio Calich,
reumatologista do Hospital das Clínicas de São Paulo. Na prática, isso quer
dizer que o paciente começa as ter sangramento nas fezes. “Deve-se preferir
outros medicamentos, como sulfassalazina, corticoide intra-articular, imunossupressores como o metotrexate e, dependendo da gravidade, a introdução
de modernos bloqueadores da inflamação, o anti-TNF-alfa”, informa o médico. Os antiinflamatórios até podem ser indicados, mas o paciente tem que estar com o
seu quadro intestinal muito equilibrado.
Na verdade, o paciente de uma doença inflamatória intestinal já em tratamento deve ser alertado de que poderão
surgir dores nas juntas do seu corpo e, sobretudo, que esse quadro pode estar
relacionado ao seu problema intestinal. E aqui fica um alerta para situações
que ainda são muito corriqueiras: se esse paciente resolver procurar um
ortopedista, numa clínica ou em um hospital para resolver o seu problema de dor
no tornozelo ou na coluna, que ele não esqueça de mencionar que tem uma doença
inflamatória intestinal. Certamente será mais fácil resolver o problema.
Dois pacientes de doenças
inflamatórias intestinais contam as suas experiências com as manifestações
articulares:
O engenheiro Mário Ino, 61 anos, tem
retocolite diagnosticada desde 1999. Num certo dia ele começou a ter um
enrijecimento no seu pé esquerdo, além de dor e inchaço nas pernas. Teve até
dor nas costas, na região lombar, que o fez trocar de colchão. Fez o exame de
colonoscopia e descobriu a sua doença intestinal. Foi-lhe indicado um
reumatologista. Tempos depois, ele estava com as articulações do lado direito
do seu corpo comprometidas e com um novo reumatologista. Atualmente, a
retocolite está controlada, mas ele toma duas ampolas por semana de um remédio
para reumatismo, além de 4 cápsulas de 500 mg por dia de mesalazina. “A dor
afeta o humor da pessoa e cria muita instabilidade”, diz Mário, que é casado e tem
três filhos, todos já adultos.
Eduardo Bom Angelo procurou um
ortopedista e até um infectologista para tentar descobrir por que as
articulações do seu joelho e tornozelo estavam inchadas e ele sentia muita dor.
Ficou com este quadro durante quase um ano, indo de médico em médico, apesar de
já saber, naquela ocasião, que era portador da doença de Crohn. Só não sabia, e
tampouco os médicos que procurou, que essas manifestações têm a ver com a sua
doença. “Eu não tinha caído, nem fraturado nenhum osso, mas não podia andar ou
andava com muita dificuldade”, conta Eduardo, que naquela época jogava basquete
na categoria máster pela Federação Paulista de Basquete e teve que parar o
esporte. Hoje, ele toma um imunossupressor e leva uma vida normal. “Está tudo
controlado e convivo com a doença tendo consciência dos meus sintomas”, diz
Eduardo, que é executivo do mercado financeiro, casado, e tem dois filhos.
Leia mais sobre
Manifestações Extraintestinais:
www.farmale.com.br/2016/08/manifestacoes-extraintestinais-das.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário