Você sabe o
que significa ser uma pessoa ostomizada?
Para viver, elas dependem da bolsa de
colostomia (intestino grosso), de ileostomia (intestino delgado) ou urostomia
(criação de um trajeto de drenagem da urina), que podem se tornar necessárias,
temporária ou permanentemente, em casos de câncer de intestino, de cólon e de
reto, doenças inflamatórias intestinais, doença de Crohn, complicações em casos
de acidente de carros ou ferimento causados por armas.
Para quem
utiliza algum tipo de bolsa, atitudes corriqueiras, como andar de ônibus, podem
se revelar extremamente constrangedoras e embaraçosas. As situações
desconfortáveis acontecem até mesmo dentro de casa, entre os familiares e
amigos.
Quem fala
sobre essa realidade é a presidente da Associação de Ostomizados de Mato Grosso
do Sul, a auxiliar de administrativo Lana Maria Flores da Costa, 55 anos. Ela
foi ostomizada há 19 anos, após tratar de um câncer no reto, e relata como até
hoje os pacientes sofrem para aceitar a condição.
“As pessoas
chegam chorando, dizendo que não acham certo conviver com essa bolsa de dejetos
no corpo”, diz Lana. “Eu respondo que ninguém quer viver com isso, mas é melhor
viver assim ou estar abaixo de sete palmos?”, indaga.
Quando foi
ostomizada, a própria Lana teve momentos de desespero, e precisou de apoio e
assistência. “O médico me falou: 'Lana, você vai entrar em cirurgia e talvez
saia dela com a bolsa'. Eu acordei depois da operação e a primeira coisa que
fiz foi colocar a mão [na barriga]. Aí pensei: 'fiquei, né?'”, recorda. “Eu
pensei que ia morrer mesmo”.
Foi ao
descobrir uma associação de ostomizados, na cidade onde morava, no Rio de
Janeiro, que ela encontrou as forças para seguir em frente. “Quando eu cheguei
na associação e eu vi as pessoas falando que viviam com a bolsa há 5, 10, 15
anos, aí sim eu levantei e pensei 'agora eu vou sair dessa'”.
A Associação
de MS atende cerca de 1.450 pessoas em todo o Estado e oferece suporte
psicológico e emocional para quem ainda está aprendendo a conviver com a nova
realidade. É a ajuda necessária para que os pacientes não desistam da própria
vida.
Em alguns
casos, a pessoa resiste tanto em aceitar a condição que acaba adoecendo ou até
morrendo. “Teve um moço que não queria aceitar e, assim que recebeu alta do
hospital, faleceu”, diz Lana, relembrando um caso de dois anos atrás.
Constrangimento
– As pessoas que vivem com a bolsa de colostomia precisam de banheiros
adequados, que tenham espaço e suporte para que possam realizar a higiene e
troca das bolsas. Os banheiros dos terminais de ônibus, por exemplo, muitas
vezes deixam a desejar e impedem que muitos usem o transporte público.
As
dificuldades também podem aparecer dentro da própria casa. “A gente demora
muito mais para fazer nossa higiene, e isso causa um desconforto entre a
própria família”, pontua Lana. “Eu sempre aconselho a pessoa a construir um
banheiro só para ela, mas muitos não têm condição financeira”.
Outro
problema frequente são os gases, que saem na bolsa sem controle da pessoa. “As
vezes você está na mesa de jantar, com toda a família, e os barulhos surgem. A
maioria não quer viver por conta de situações como essa”.
O
comerciante Márcio Augusto da Silva, 41 anos, ostomizado há 3 anos, diz que já
se acostumou com esses momentos embaraçosos. “O constragimento é a parte mais
difícil de lidar, mas a gente acostuma, e as pessoas em volta da gente vão
entendendo”, avalia.
Nesses
momentos, o acompanhamento com psicológa e outros pessoas que passam pelas
mesmas situações é fundamental, além da conscientização da sociedade sobre a
condição. “A gente se sente um pouco esquecido, até pelo Poder Público”, revela
Lana. “Falta conscientização e falta ajuda”.
A Associação
está há dois meses sem receber as bolsas que deveriam ser repassadas pelo
governo estadual. Mais de 400 pessoas estão prejudicadas.
Apoio – A
Associação recebe doações de artigos como roupas, sapatos e acessórios para
vender e angrariar fundos. Atualmente, estão com estoque doado pela Receita
Federal. Para comprar as peças basta ir até a sede da Associação, na Rua Barão
de Melgaço, 118, Centro. O telefone, para quem busca suporte ou quer ajudar, é
3356-5830.
Fonte: CampoGrande News
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