Em Editorial
do The Lancet, Séverine Vermeire e colaboradores relataram os resultados do
estudo FITZROY, um ensaio controlado e randomizado, de fase 2, que comparou o
inibidor de JAK1 filgotinib com placebo para remissão clínica de pacientes com
doença de Crohn moderada a grave.
Os
estudiosos avaliaram que apesar do tamanho modesto, a avaliação em curto prazo
e os resultados preliminares, o estudo FITZROY oferece uma esperança futura por
várias razões: a abordagem diferente ao bloqueio de citocinas, a dosagem oral,
a estratificação por tratamento prévio com compostos anti-TNF e os resultados
significativos relatados pelos pacientes. Quando considerado junto com um
estudo recente de células-tronco para fístula perianal, ele mostra uma mudança
para um pensamento mais amplo em maneiras de melhorar o tratamento da doença de
Crohn.
O estudo
FITZROY (174 doentes) avaliou o uso de filgotinib uma vez por dia versus
placebo em pacientes com doença de Crohn ativa moderada a grave e ulceração da
mucosa. Os doentes recrutados nunca tinham usado anti-TNF ou não responderam ao
anti-TNF. O estudo compreendeu duas partes, cada uma com 10 semanas de duração:
a primeira parte investigou a segurança e eficácia de 200 mg de filgotinib, uma
vez por dia, versus placebo; enquanto a segunda parte do estudo investigou a
continuação do tratamento até 20 semanas num estudo exploratório de observação.
O estudo
FITZROY atingiu o desfecho primário da remissão clínica nas primeiras dez
semanas: a percentagem de doentes que obteve uma pontuação no Índice Crohn's
Disease Activity Index (CDAI) abaixo de 150 foi significativamente maior nos
doentes tratados com filgotinib versus doentes que receberam placebo.
Observou-se também melhora na qualidade de vida, histopatologia, avaliação
endoscópica e biomarcadores de atividade inflamatória nas primeiras dez semanas
do estudo. As respostas clínicas foram mantidas da 10ª a 20ª semanas. Os não
respondedores no grupo do placebo das primeiras 10 semanas receberam filgotinib
100 mg durante a segunda parte do estudo e mostraram melhora na remissão
clínica.
Em geral, no
estudo FITZROY com 20 semanas de tratamento, filgotinib demonstrou um perfil de
segurança favorável, consistente com os achados dos estudos DARWIN anteriores
em pacientes com artrite reumatoide. Um aumento na hemoglobina também foi
observado no estudo FITZROY, sem diferença entre filgotinib e placebo. Não
foram observadas alterações clinicamente significativas a partir da linha de
base nos neutrófilos ou nos testes de função hepática.
É importante
lembrar que o filgotinib é uma droga de investigação e ainda não foram
estabelecidas a sua eficácia e segurança.
O Editorial
do The Lancet ainda observou que desde 1932, quando Burrill Crohn, Leon
Ginzburg e Gordon Oppenheimer codificaram a ileíte regional como uma entidade
clínica e patológica distinta, abordagens sucessivas aos cuidados dos
portadores dessa patologia têm sido incapazes de alcançar o sucesso universal
contra a natureza recidivante da doença. A investigação não está acompanhando as
necessidades. A cada ano, a doença de Crohn prejudica a qualidade de vida de um
número crescente de jovens adultos, em vários países.
Os achados
do estudo FITZROY aumentam o conhecimento acumulado de fatores genéticos,
ambientais, microbiológicos, moleculares e imunológicos envolvidos na doença
inflamatória intestinal. Eles devem servir para reforçar e acelerar o recente
impulso na investigação sobre a doença de Crohn e a tradução de novos insights
sobre oportunidades de prevenção e intervenção precoce.
Que melhor
maneira de marcar o centenário da descrição da Doença de Crohn daqui há 15 anos
do que oferecendo nova esperança à próxima geração de pessoas com a doença?
Fazer isso requer biomarcadores mais confiáveis, que melhor se correlacionam
com os achados endoscópicos e prognósticos, melhor compreensão da resposta
individual, atitudes mais ousadas sobre os tratamentos, seus objetivos e mais
ênfase no cuidado em ambientes de recursos limitados. Mecanismos alternativos,
como a reparação de vias de sinalização desordenada e o microbioma, também
devem ser considerados.
Na contagem
regressiva até 2032, o progresso real pode ser feito com um esforço concentrado
e colaborativo; particularmente se pesquisadores e financiadores aspirarem para
além do objetivo de remissão profunda para a possibilidade de cura da doença.
FONTE: News.Med.Br
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