Ok, você deve estar pensando: esse blog não é para
falar de doença inflamatória intestinal (doença de Crohn e retocolite
ulcerativa)??? Que tanto essa moça (eu) escreve sobre medicamentos, leis,
patentes, judicialização... O meu objetivo é compartilhar informações sobre a
sua, a nossa doença, mas falar sobre sinais, sintomas, diagnóstico nas DII,
você vai encontrar em qualquer site/blog pela internet. A DII não é uma doença
nova, Crohn e retocolite ulcerativa já foram descobertas há alguns anos, alguns
de vocês nem eram nascidos quando iniciaram as pesquisas sobre DII.
Vou te contar umas coisas sobre o meu objetivo com
esse blog, o Farmale = FARMácia + ALEssandra. Sou Farmacêutica, tenho
doença de Crohn e espondiloartrite. Quando descobri a doença não sabia nada,
absolutamente nada, nem estava na faculdade e fiquei fazendo o que muitos fazem
quando recebem um diagnóstico de uma doença que nunca ouviram falar: GOOGLE! Dr
GOOGLE. Não acho que buscar informações no Google seja algo ruim, pelo
contrário, você precisa saber, você precisa conhecer e a internet está aí pra
isso, para vc pesquisar mas, com um bom senso crítico, claro. Meu objetivo é manter você informado sobre a DII e isso envolve muitos assuntos além de simplesmente repetir informações que você encontra em qualquer site/blog de DII, vamos falar de políticas públicas de sáude, de indústria farmacêutica, de pesquisas, porque tudo isso tem relação com o seu tratamento, tudo isso pode prejudicar ou melhorar o seu tratamento.
Estamos passando por um período muito dramático no
Brasil, muitas prefeituras falidas, muita corrupção, muita irresponsabilidade
dos governantes... roubou e mais roubo. E o SUS com toda sua teoria de equidade
indo para o brejo...
Não passo um dia sem ler pedidos de doação de
medicamentos nos grupos pelas redes sociais. As indústrias farmacêuticas lançando novos fármacos,
novas opções de tratamentos com valores cada vez mais absurdos e totalmente fora do nosso alcance, nem mesmo os biossimilares, tão festejados quanto ao preço, estão ao nosso alcance. Doença virou um comércio muito lucrativo, faz
tempo...
Entender um pouco sobre como os medicamentos chegam
até nós, sobre como a sua doença pode ser tratada de acordo com os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), o que a Conitec faz, segurança e
eficácia dos novos medicamentos para o seu tratamento... acho tudo isso muito
importante para o seu empoderamento como paciente. Para que você possa exercer
sua cidadania com responsabilidade e saber exigir seus direitos como cidadão.
Então, a gente precisa falar sobre essas coisas que parecem fugir do foco
DII mas que estão totalmente conectadas.
E por falar em Conitec, você sabia que tem um consulta pública sobre o Cimzia para doença de Crohn? "Certolizumabe pegol parao tratamento de Doença de Crohn moderada a grave". Pois é... quando eu digo
que você precisa saber de políticas públicas de saúde, eu não estou brincando.
Você sabia que o PCDT da retocolite ulcerativa é de 2002??? Nem biológico
tem!!! Então não adianta você gritar na farmácia pelo Remicade para RCU, pois
se não está no PCDT, não vai rolar, a não ser por judicialização. Vamos conversar
mais e mais sobre isso, sim é chato, mas precisamos.
Acreditar nos valores que a indústria farmacêutica
diz gastar desenvolvendo novos medicamentos é mesmo que acreditar que a Terra é
plana. Desculpem a ironia... mas também precisamos desconstruir essas falácias
que plantaram na nossa cabeça e vamos falar disso muitas vezes por aqui. Hoje
compartilho um texto para você começar a pensar nisso tudo que escrevi
aqui.
Sociedade civil chama a atenção para responsabilização de empresas farmacêuticas na ONU
Grupo de organizações subsidia trabalho do Grupo Intergovernamental sobre Direitos Humanos e Corporações Transnacionais
As organizações da Rede Latinoamericana para Acesso a Medicamentos (RedLam)
e a Transnational Institute (TNI)
enviaram, no último dia 4, documento (em
inglês) contendo preocupações com ataques ao direito à saúde para fomentar o
trabalho do Grupo
Intergovernamental sobre Direitos Humanos e Corporações Transnacionais (IGWG
on TNCs and Human Rights, em inglês).
O Grupo Intergovernamental sobre Direitos Humanos e
Corporações Transnacionais recebeu submissões da sociedade civil para subsidiar
as discussões em torno do tratado vinculante que responsabilize empresas
transnacionais por violações de direitos humanos.
O Grupo Intergovernamental se reúne pela segunda
vez dos dias 24 a 26 de outubro, nas Nações Unidas, em Genebra. O resultado
esperado da reunião é a primeira versão do texto para o tratado.
No documento, RedLam e Transnational Institute
chamam à atenção as violações de empresas farmacêuticas em relação à inovação e
ao acesso de tecnologias de saúde, particularmente no âmbito de abusos do
sistema de patentes. As organizações argumentam pela necessidade de um tratado
vinculante que efetivamente responsabilize corporações transnacionais
farmacêuticas por violações ao direito à saúde e, em especial, por bloqueios ao
acesso a medicamentos.
Em relação à inovação em tecnologias de saúde, o
documento demonstra que o sistema de propriedade intelectual é falho. A
negligência em torno de doenças como dengue e zika exemplificam o quadro. O
documento também aponta que o modelo de monopólio gerado pelas patentes retarda
a disponibilidade dos tratamentos de saúde mais eficazes e menos nocivos. O
caso lustrado é o do antirretroviral TAF que, apesar de ser reconhecidamente
mais benéfico que seu antecessor TDF, só entrou no mercado doze anos após seu
desenvolvimento, quando a patente do TDF expirou.
Já em relação ao acesso, o documento denuncia os
obstáculos que o sistema de propriedade intelectual impõe na compra de
medicamentos e, ainda, ressalta os constantes abusos por parte de empresas
farmacêuticas para prolongar monopólios de forma interminável, colocando
medicamentos essenciais fora de alcance de milhões de pessoas por longos
períodos. A submissão evidencia que os monopólios gerados pela detenção da
patente permitem que as farmacêuticas cobrem preços injustificadamente altos
pelos medicamentos. O recente caso do sofosbuvir, medicamento para Hepatite C,
doença que atinge 185 milhões de pessoas ao redor do mundo, demonstra como o
sistema afeta globalmente as pessoas que precisam de medicamentos. Nos Estados
Unidos, o laboratório Gilead lançou o tratamento de três meses com sofosbuvir
por 84 mil dólares, o que equivale a 1000 dólares por comprimido.
Criado em 2014 no âmbito do Conselho de Direitos
Humanos da ONU, o Grupo Intergovernamental é composto por representações de
países e liderado pela delegação do Equador. O Brasil se absteve da resolução
que criou o Grupo e tem tido uma participação pouco protagonista no processo.
Há uma grande expectativa de diversos movimentos
sociais de várias partes do mundo para que este processo de fato gere a
elaboração de um tratado vinculante. Organizações reunidas em torno da
Campanha “Dismantle
Coorporate Power” estarão no fim do mês na ONU acompanhando a próxima
etapa das negociações. Confira abaixo o vídeo da campanha em espanhol e
participe: #BindingTreaty | #SaúdeNãoÉComercio | #LargueOCaso.
Fonte: De Olho nas Patentes
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